Textos filosóficos, críticos, comportamentais e sobre arte da escrita, sucesso e auto-ajuda.
Professor Doutor Silvério
Blog: "Comportamento Crítico"
Professor Doutor Silvério
Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.
(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)
E-mails encaminhados para doutorsilveriooliveira@gmail.com serão respondidos e comentados excluindo-se nomes e outros dados informativos de modo a manter o anonimato das pessoas envolvidas. Você é bem vindo!
Resumo das
principais ideias contidas no “modelo do jogo da vida em sociedade"
1. **Sociedade
como um Jogo de Tabuleiro ou Cartas**: O modelo conceitua a vida em sociedade
como um jogo metafórico, com interações sociais regidas por regras, estratégias
e objetivos, semelhante a um tabuleiro com dados ou um jogo de cartas, onde o
acaso (sorte/azar) influencia o início, mas as decisões dos jogadores
determinam o rumo.
2. **Ênfase no
Nomos (Lei/Normas)**: O foco central do modelo é o "nomos" – as leis,
regras e normas explícitas e implícitas que governam o jogo social, incluindo
punições por violações (como trapaça), e que transcendem outros elementos, como
a linguagem, sendo essencial para o sucesso ou fracasso individual.
3. **Jogadores e
Suas Características Iniciais**: Cada indivíduo é um jogador que entra no jogo
com uma "mão de cartas" ou "lance inicial de dados",
representando fatores como família, condição social, genética e contexto
histórico-cultural, que influenciam as estratégias iniciais, mas não determinam
o resultado final.
4. **Objetivos e
Estratégias Individuais**: Os jogadores definem objetivos pessoais (como
sucesso social, relacionamentos ou bens materiais), desenvolvendo estratégias
conscientes ou inconscientes para alcançá-los, com possibilidade de adaptação e
mudança ao longo do jogo, moldando interações sociais como "jogadas".
5. **Linguagem
como Ação e Ferramenta Social**: A linguagem não é mera representação, mas uma
forma de ação que cria compromissos, responsabilidades e influências (pedidos,
ofertas, promessas), submetida ao nomos, e essencial para comunicação,
negociação e transformação das dinâmicas sociais.
6. **Elementos
de Incerteza e Competição**: Inclui conceitos como sorte/azar
(imprevisibilidade externa), ganhar/perder (alcançar ou não objetivos em
detrimento de outros) e trapaça (violação ética de regras), destacando que o
conhecimento das normas dá vantagem competitiva.
7. **Aprendizado
Contínuo e Adaptabilidade**: O modelo enfatiza a importância de aprender regras,
aprimorar habilidades (como comunicação e interpretação de ações alheias) e
evoluir por meio de reflexão, educação e experiências, permitindo melhor
desempenho e superação de desafios.
8. **Aplicações
Interdisciplinares**: Pode ser usado em campos como negócios, educação,
psicologia, coaching, terapia, política e economia para entender dinâmicas,
melhorar colaboração e desenvolver estratégias eficazes, incluindo na
literatura de autoajuda como ferramenta para ensinar regras sociais.
9.
**Responsabilidade Ética e Transcendência**: Os jogadores assumem
responsabilidade por suas escolhas, com ênfase em ética. O modelo discute
relativismo moral (normas mutáveis por cultura/tempo), mas propõe meta-regras
universais transcendentes (como justiça, empatia), ligadas à religião ou
direitos humanos.
10. **Integração
com Outras Teorias**: Engloba e subsume teorias como o agir comunicativo de
Habermas, razão instrumental/crítica da Escola de Frankfurt, psicanálise
(inconsciente, pulsões) e inteligência emocional, posicionando o nomos como
superconjunto que as abarca.
**Ideias ou
Conceitos Adicionais Essenciais
(além das 10
principais, para não omitir aspectos chave ao resumir o texto)
- **Família e
Influências Iniciais**: A família como parte da "mão inicial", moldando
crenças, valores e estratégias precoces, mas superável por decisões
individuais.
- **Resultados e
Consequências**: Os resultados das jogadas dependem de estratégias e nomos,
podendo ser positivos/negativos, com foco em inovação, resiliência e colaboração
equilibrada com competição.
- **Linguagem
Não Verbal e Inconsciente**: Inclusão de atos falhos, gestos e pulsões (da
psicanálise), além da inteligência emocional para "ler" normas
implícitas, dando vantagens no jogo.
- **Aplicações
Específicas (Sexualidade, Crime)**: Explica comportamentos como escolhas
deliberadas sob nomos, respeitando consentimento e leis, sem justificar
violações, e promovendo superação.
-
**Transformação Social**: Os jogos sociais são mutáveis por ações dos
jogadores, permitindo mudanças em normas via comunicação e reflexão coletiva.
- **Exemplo
Prático**: Interação simples (como entre irmãos) para ilustrar jogadas,
estratégias e resultados, escalável para cenários complexos.
Sílvio
Vasconcelos da Silveira Ramos Romero (1851-1914) nasce em Lagarto, Sergipe, e
falece na cidade e estado do Rio de Janeiro. Seus pais foram André Ramos Romero,
comerciante português, e Maria Joaquina Vasconcelos da Silveira.
Desde cedo, o
ambiente familiar instilou nele um senso de curiosidade e ambição, misturando
as influências europeias do pai com as tradições brasileiras da mãe. Seus
primeiros anos foram passados na vila de Lagarto, onde frequentou escola,
absorvendo os rudimentos da educação primária em um contexto onde o aprendizado
era tanto um privilégio quanto uma necessidade para ascensão social.
Aos 12 anos, em
1863, deixou o Nordeste rumo à corte imperial, o Rio de Janeiro, para
prosseguir com os estudos preparatórios no Ateneu Fluminense. Cinco anos
depois, em 1868, retornou para Pernambuco, para ingressar na prestigiada
Faculdade de Direito do Recife, na qual cursou Direito, vindo a se diplomar em
1873.
Na década de
1870 teve a oportunidade de colaborar com artigos em vários periódicos de
Pernambuco e do Rio de Janeiro. Sílvio Romero foi um polímata. Atuou como crítico,
ensaísta, folclorista, polemista, professor e historiador da literatura
brasileira. Ele foi um crítico literário, poeta, político e jurista.
Durante esse
período, Sílvio se destacou não apenas academicamente, mas também como parte de
um grupo vibrante de pensadores. Ao lado de figuras como Tobias Barreto (que já
estava no quarto ano quando Sílvio Romero iniciou o primeiro ano de Direito),
ele ajudou a formar o que ficaria conhecido como a Escola do Recife, um
movimento que buscava renovar a mentalidade brasileira através de discussões
sobre filosofia, sociologia e crítica cultural. Foi ali que ele defendeu uma
tese polêmica para o doutorado, desafiando a congregação da faculdade ao
declarar a "morte da metafísica" e debatendo com professores
renomados, o que o marcou como um intelectual ousado e inovador.
Nomeado promotor
público na comarca de Estância, em Sergipe, ele exerceu o cargo com dedicação,
lidando com as complexidades do sistema jurídico em uma região ainda marcada
por tradições coloniais. Em 1875, foi eleito deputado provincial por Estância,
uma posição que lhe permitiu influenciar debates locais sobre educação e
desenvolvimento, mas nela ficou por pouco tempo.
Por volta de
1879, ele se mudou definitivamente para o Rio de Janeiro, capital e centro
cultural e político do Império. Colaborou com jornais pernambucanos e cariocas,
ficou conhecido em particular como crítico literário.
Lecionou
filosofia no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, entre os anos de 1881 e 1910
e fez parte do grupo de intelectuais que fundou a ABL – Academia Brasileira de
Letras, em 1897. Na sessão de instalação da Academia Brasileira de Letras, em
28 de janeiro de 1897, fundou a cadeira nº 17, escolhendo como patrono Hipólito
da Costa. Também foi membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Coube a ele apresentar significativa e importante contribuição a historiografia
literária brasileira. Também foi sócio correspondente da Academia de Ciências
de Lisboa. Atuou também como juiz na cidade de Paraty, no Rio de Janeiro.
Seus primeiros
livros surgiram em 1878: um ensaio sobre filosofia no Brasil e uma coletânea de
poemas. Uma viagem a Lisboa em 1883 marcou outro ponto alto, onde publicou um
trabalho sobre folclore brasileiro, resultado de suas pesquisas iniciais sobre
as tradições populares do país. Essa incursão ao exterior reforçou sua
reputação como um erudito que conectava o Brasil ao mundo europeu, ao mesmo
tempo em que valorizava as raízes nacionais.
Aqui cabe citar
um evento pitoresco e que marcou o fim de uma amizade e o início de uma grande
inimizade. Ao visitar Lisboa, Portugal, em 1883 e visando uma maior
visibilidade para o folclore brasileiro com a publicação de uma coletânea de
suas obras em Portugal, ganhando projeção internacional, contou inicialmente
com a colaboração do intelectual português Teófilo Braga, já autor renomado
pelos estudos sobre folclore em Portugal. Teófilo Braga deveria supervisionar a
publicação de “Cantos populares do Brasil” e “Contos populares do Brasil”, de
autoria de Sílvio Romero, mas Teófilo Braga introduziu alterações
significativas na publicação e sem o consentimento do autor. Essas modificações
incluíam a reordenação de capítulos para enfatizar paralelos com tradições portuguesas,
a inserção de contos e notas adicionais que diluíam as influências indígenas e
africanas destacadas por Romero, e a substituição da introdução original por um
prefácio de Braga focado em escritos lusitanos, transformando o material
brasileiro em uma extensão subordinada do folclore europeu. Romero, sentindo-se
traído por essa "esperteza" que comprometia sua visão nacionalista e
mestiça da cultura brasileira, reagiu com veemência ao retornar ao Rio de
Janeiro, publicando panfletos como “Uma Esperteza: Os Cantos e Contos Populares
do Brasil e o Sr. Theophilo Braga” (1887) e, anos depois, “Passe Recibo”
(1904), nos quais acusava Braga de oportunismo e apropriação intelectual. A
polêmica, que se estendeu pela imprensa luso-brasileira, não só rompeu a
amizade, mas também destacou tensões pós-coloniais sobre soberania cultural,
impulsionando Romero a lançar edições revisadas no Brasil para restaurar sua
autoria original e reforçar o folclore como expressão autêntica da identidade
nacional mestiça. Essa disputa, conhecida como ‘Querela dos Originais’,
destacou as tensões pós-coloniais entre Brasil e Portugal, reforçando o
compromisso de Romero com a soberania cultural brasileira.
A década de 1890
trouxe novas dimensões à sua trajetória. Em 1891, Sílvio contribuiu com artigos
sobre educação para o “Jornal Diário de Notícias” e foi nomeado membro do
Conselho de Instrução Superior pelo ministro Benjamim Constant, influenciando
políticas educacionais na nascente República. Sua veia política ressurgiu com
força entre 1900 e 1902, quando serviu como deputado federal pelo Partido
Republicano de Sergipe, atuando como relator-geral na revisão do Código Civil,
um papel crucial na modernização das leis brasileiras.
Teve três
casamentos: casou com Clarinda Diamantina Correia de Araújo; com Maria
Liberato; e com Petronila Barreto. No total teve 19 filhos, sendo quatro com a
primeira esposa, três com a segunda e doze com a terceira. O término dos dois
primeiros casamentos ocorreu em virtude do falecimento das respectivas esposas,
já a terceira o acompanhou por toda a sua vida, vindo a falecer somente após o
falecimento de Sílvio Romero. Suas três esposas eram de origem nordestina.
Tinha uma
personalidade que o levava a embates polêmicos, sendo bem combativo e mesmo
contraditório. Apesar de sua brilhante contribuição e participação social como
intelectual brasileiro, restam algumas falas que infelizmente o aproximam de um
contexto pró eugenia (melhoramento da espécie humana) e racista (criticando
características que este entende estarem presentes no branco europeu português,
no índio e no negro que formaram a nação brasileira), quando observadas em um
contexto contemporâneo.
Teve como seu
mestre maior Tobias Barreto, sendo reconhecido também como membro da assim
conhecida “Escola de Recife” (ou “Geração de 70”). Inicialmente próximo das
ideias do Positivismo de Augusto Comte, excetuando a parte religiosa (Religião
da Humanidade), posteriormente passou a se aproximar das ideias evolucionistas
presentes em Herbert Spencer.
Nos anos finais,
após se aposentar do Colégio Pedro II, Sílvio buscou novos ares. Entre 1911 e
1912, residiu em Juiz de Fora, Minas Gerais, onde se envolveu ativamente na
cena local: publicava poemas em jornais, prefaciava livros, ministrava aulas e
proferia discursos que ecoavam sua paixão pela cultura brasileira. Esse período
de semi-retiro foi uma pausa reflexiva, mas ele logo retornou ao Rio de
Janeiro. Sílvio Romero faleceu em 18 de junho de 1914, aos 63 anos, deixando
para trás um legado de polêmicas, inovações e uma profunda devoção à identidade
nacional. Sua morte marcou o fim de uma era para a intelectualidade brasileira,
mas sua influência perdura como um farol para quem estuda as raízes do
pensamento crítico no país.
Além de sua
intensa trajetória pessoal e profissional, Sílvio Romero deixou um legado
intelectual que transformou o pensamento brasileiro. Sílvio Romero apresentou
uma abordagem inovadora à crítica literária brasileira e também a filosofia,
etnografia e análise cultural em nosso país, sendo suas ideias um marco no
desenvolvimento do pensamento brasileiro.
Um dos
principais representantes da Escola de Recife, trouxe para o Brasil ideias
pautadas no evolucionismo de Darwin e Spencer, bem como, do Positivo de Comte.
Sua obra se pauta em estudos e interesses sobre a identidade nacional
brasileira, buscando entender o Brasil a partir de suas raízes culturais,
históricas e étnicas, ressaltando a mestiçagem e o folclore, este último
enquanto expressão autêntica de nossa realidade nacional.
Coube a Sílvio
Romero ser um dos primeiros intelectuais brasileiros a assumir a tese de ser a
mestiçagem um forte elemento na formação da cultura brasileira. Argumentou que
a nação brasileira era o resultado final da mescla entre povos oriundos nos
nativos indígenas, dos negros trazidos como escravos e do português
colonizador. Ao rejeitar o etnocentrismo europeu, assume que a soma destas
contribuições raciais e culturais é uma força e não uma fraqueza nacional,
devendo ser comemorada como sendo a essência de nossa brasilidade. Ele entendia
esta mescla de raças (indígenas, português e negro) como responsável pela
formação de uma identidade nacional distinta e única.
Sílvio Romero
entendia ser o folclore algo a semelhança de um espelho para vermos a alma
popular brasileira. Foi ele um pioneiro nos estudos sobre folclore no Brasil,
como fica nítido pela sua obra de 1883, “Contos populares do Brasil”, e sua
outra obra, de 1888, “Estudos sobre a poesia popular no Brasil”. Segundo ele,
manifestações populares presentes em contos, canções, poesias e outras mais,
mostravam-se como genuínas expressões de nossa brasilidade, já que tais
produções preservam a memória coletiva do povo. Ele adaptou métodos e técnicas
europeias de coleta folclórica ao contexto sociocultural presente no Brasil,
recolhendo e catalogando diversas narrativas, em particular no nordeste
brasileiro, e destacando suas influências portuguesas, indígenas e africanas.
Em vez de dar uma ênfase a uma determinada elite intelectual, focou seu olhar
analítico para as contribuições provindas da cultura popular.
Adotou o
evolucionismo provindo de uma interpretação das ideias de Darwin e Spencer para
interpretar a sociedade brasileira, como podemos observar na obra de 1894,
“Doutrina contra doutrina: O evolucionismo e o positivismo no Brasil”. Apesar
da influência inicialmente sofrida pelo Positivismo de Comte por parte da
Escola de Recife, da qual Sílvio Romero fazia parte, ele rejeitava a adoção
rígida destas ideias e doutrina, adotando em seu lugar uma abordagem dinâmica
que entendia o progresso social enquanto um processo orgânico com a presença de
fatores históricos, geográficos e também biológicos. Deste modo, buscou
analisar o Brasil como sendo uma nação em um processo de evolução, na qual
podemos encontrar a tensão existente entre um passado colonial e um futuro
republicano.
Sílvio Romero
nos apresenta uma crítica literária com foco prioritário na realidade nacional
brasileira, como podemos observar na obra de 1888, “História da literatura
brasileira”. Coube a Sílvio Romero fundar a moderna crítica literária
brasileira ao propor que a literatura deve refletir a realidade social e
cultural do país. Adotou uma postura de crítica ao Romantismo por (de acordo
com seu entendimento) este mostrar uma atitude de escapismo. Romero defendia um
naturalismo adaptado, tendo como inspiração Émile Zola, dentro desta postura
caberia a esta forma de naturalismo capturar as diversas e distintas
particularidades presentes na vida brasileira. A literatura brasileira deve
explorar as tensões raciais, regionais e sociais e, deste modo, abandonar
idealizações e propiciar a busca de uma autêntica representação do povo em seu
ambiente.
Para Sílvio
Romero a educação deve ser entendida como sendo o motor do progresso e
essencial para o desenvolvimento brasileiro, ideia esta que desenvolveu nos
artigos públicos em 1891 no “Diário de notícias” e também na sua atuação no
Conselho de Instrução Superior. Segundo seu pensamento, o sistema educacional
brasileiro deve ser laico, científico e inspirado no modelo europeu, mas
adaptado a realidade do Brasil. Para o Brasil conseguir superar o atraso
cultural e político que foi herdado do período colonial, torna-se necessário
uma sólida formação intelectual que promova a cidadania consciente e engajada.
Sílvio Romero
também desenvolveu ideias críticas para com o parlamentarismo e a politicagem,
como vemos em “Ensaios de Crítica parlamentar”, 1883, e “Geografia da
politicagem”, 1909. Ele buscou expor os vícios do sistema político brasileiro
de então, presentes no Império e, posteriormente, na República, denunciando a
corrupção, o clientelismo e a falta de representatividade, em especial no
tocante às regiões periféricas do país, como no caso o Nordeste. Assumia uma
postura reformista que buscava uma política transparente e dentro dos ideais
republicanos.
Em sua obra “A
filosofia no Brasil”, 1878, defende uma filosofia racional com raízes locais a
partir de um pensamento filosófico que seja realmente brasileiro, mas que possa
estabelecer o diálogo com correntes de pensamento ao redor do mundo. Para ele
não seria correto a mera importação de ideias de modo acrítico. Cabe a
integração de elementos culturais brasileiros às ideias provindas da Europa,
como no caso do folclore e da história, buscando a construção de uma filosofia
que saiba mostrar de modo coerente a experiência nacional. Adotou uma abordagem
pragmática, buscando superar o espiritualismo tradicional e seguir em uma
direção científica e evolutiva.
Foi um forte
defensor do nacionalismo cultural brasileiro. Cabe aos brasileiros reconhecer
as especificações geográficas, étnicas e históricas presentes no Brasil,
visando a construção de uma identidade realmente robusta e independente, como
vemos em sua obra de 1882, “Introdução à história da literatura brasileira” e
em sua outra obra, de 1912, “O Brasil na primeira década do século XX”, nas
quais analisa o Brasil como sendo uma nação ainda em formação, mas com
potencial para se destacar no cenário mundial, no entanto, para que isto ocorra
é necessário que primeiramente haja uma atuação que busque valorizar as reais
raízes brasileiras dentro da união de raças aqui presentes, bem como, a
superação do atraso estrutural.
As ideias de
Sílvio Romero tiveram grande impacto e ele nos deixou um legado significativo,
moldando o pensamento brasileiro ao introduzir métodos científicos na análise
cultural e literária, valorizar o folclore enquanto patrimônio nacional e
propor uma visão de nossa identidade nacional como oriunda da mestiçagem
ocorrida entre o europeu, o negro e o indígena. Sua visão sobre a raça ser um
fator determinista na formação de um povo foi e ainda é sujeita a críticas e
revisionismos contemporâneos. O pensamento crítico e as análises de Sílvio
Romero foram essenciais para a construção de uma consciência nacional que seja
crítica, abrindo caminho para outros pensadores e permanecendo uma referência
fundamental para entender a formação do Brasil até os dias atuais. Até hoje, as
ideias de Romero inspiram debates sobre identidade, cultura e progresso no Brasil,
desafiando-nos a refletir sobre o que significa ser brasileiro.
ALGUMAS DE SUAS
PRINCIPAIS OBRAS
1- A Poesia
Contemporânea. Ano da primeira publicação: 1869.
Esse ensaio
inicial de crítica literária examina as tendências poéticas do final do século XIX
no Brasil, questionando influências românticas e propondo uma renovação
estética influenciada por correntes europeias, marcando o surgimento de Romero
como analista e crítico cultural.
Neste trabalho
pioneiro, Romero traça um panorama das correntes filosóficas no país,
criticando o espiritualismo e o positivismo enquanto elogia figuras como Tobias
Barreto, defendendo uma abordagem mais científica e evolutiva para o pensamento
brasileiro.
3- Cantos do Fim
do Século. Ano da primeira publicação: 1878.
Coleção de
poemas que reflete o romantismo tardio, com toques filosóficos e influências de
Victor Hugo, explorando temas de melancolia social e existencial em um Brasil
imperial em transição.
4- Interpretação
Filosófica na Evolução dos Fatos Históricos. Ano da primeira publicação: 1880.
Tese acadêmica
que aplica conceitos evolutivos à análise da história, argumentando pela
influência da filosofia na compreensão de eventos sociais e políticos, com
ênfase em uma visão progressista da sociedade brasileira.
5- Introdução à
História da Literatura Brasileira. Ano da primeira publicação: 1882.
Obra
introdutória que delineia os fundamentos para o estudo da literatura nacional,
propondo uma análise racial e ambiental para explicar o desenvolvimento
cultural do Brasil, preparando o terreno para trabalhos mais amplos.
6- O Naturalismo
em Literatura. Ano da primeira publicação: 1882.
Ensaio que
discute o movimento naturalista, adaptando ideias de Zola ao contexto
brasileiro, criticando excessos românticos e defendendo uma literatura mais
realista e científica para capturar a essência da sociedade.
7- Últimos
Harpejos: Fragmentos Poéticos. Ano da primeira publicação: 1883.
Última incursão
poética de Romero, com fragmentos que mesclam lirismo romântico e reflexões
filosóficas, simbolizando o fechamento de sua fase criativa em verso para
priorizar a crítica e o ensaísmo.
8- Contos
Populares do Brasil. Ano da primeira publicação: 1883.
Compilação de
narrativas folclóricas coletadas no Nordeste, com análises que valorizam a
tradição oral como base da identidade cultural brasileira, influenciada por
estudos europeus de folclore.
9- Ensaios de
Crítica Parlamentar. Ano da primeira publicação: 1883.
Conjunto de
textos que analisam o sistema político-parlamentar do Império, com críticas à
corrupção e ineficiências, refletindo o engajamento de Romero na vida pública e
sua visão reformista.
10- Ensaios de
Philosophia do Direito. Ano da primeira publicação: 1885.
Exploração
filosófica das bases do direito, integrando evolução darwiniana e positivismo
para propor uma jurisprudência mais adaptada à realidade social brasileira
emergente.
11- História da
Literatura Brasileira. Ano da primeira publicação: 1888.
Obra seminal em
dois volumes que mapeia a evolução da literatura no Brasil, incorporando
fatores étnicos, geográficos e sociais, e posicionando Romero como fundador da
crítica literária nacional contemporânea.
12- Estudos
Sobre a Poesia Popular no Brasil. Ano da primeira publicação: 1888.
Análise
aprofundada da poesia folclórica, destacando sua importância para a formação da
identidade nacional, com exemplos coletados que revelam influências indígenas,
africanas e portuguesas.
13- Etnografia
Brasileira. Ano da primeira publicação: 1888.
Estudo
etnográfico que examina as misturas raciais e culturais no Brasil, defendendo
uma visão mestiça da nação e criticando visões eurocêntricas puras.
14- Doutrina
Contra Doutrina: O Evolucionismo e o Positivismo no Brasil. Ano da primeira
publicação: 1894.
Debate polêmico
entre o evolucionismo spenceriano e o positivismo comteano, aplicado ao
contexto brasileiro, onde Romero advoga pelo primeiro como ferramenta para
entender o progresso social.
15- Evolução do
Lirismo Brasileiro. Ano da primeira publicação: 1905.
Trajetória
histórica do lirismo na poesia brasileira, desde o colonialismo até o moderno,
enfatizando transformações influenciadas por mudanças sociais e intelectuais.
16- Geografia da
Politicagem. Ano da primeira publicação: 1909.
Crítica satírica
à corrupção e ao clientelismo na política brasileira, mapeando regionalmente os
vícios do sistema republicano inicial.
17- O Brasil na
Primeira Década do Século XX. Ano da primeira publicação: 1912.
Análise
sociopolítica dos primeiros anos da República, destacando desafios econômicos,
culturais e identitários enfrentados pelo país em um mundo em mudança.
Nas ciências do espírito,
o espírito objetivou-se, nelas formaram-se fins e valores realizaram-se, e é
precisamente esse elemento espiritual, que tomou forma nelas, que é apreendido
pela compreensão. Dilthey.
Wilhelm
Christian Ludwig Dilthey (1833-1911) nasceu em Wiesbaden-Biebrich, região do
Reno, Confederação Alemã, e faleceu aos 77 anos de idade em Seis am Schlern,
Áustria-Hungria. Filho de um teólogo da Igreja Reformada (Calvinista), cresceu
em um ambiente familiar marcado pela tradição religiosa, estudou Teologia na
Universidade de Heidelberg e Filosofia na Universidade de Berlim. Durante esse
período, ele se aprofundou na obra de pensadores como Friedrich Schleiermacher,
cuja hermenêutica e abordagem à religião o inspiraram a explorar a compreensão
da experiência humana. Concluiu o ensino fundamental em Wiesbaden e em seguida
começou a estudar teologia, inicialmente em Heidelberg e depois em Berlim, mas
não deu sequência a estes estudos, tendo transferido seu interesse para a
filosofia.
Obteve seu
doutorado em Berlim no ano de 1864com uma tese sobre a ética de
Schleiermacher, marcando sua transição definitiva para a filosofia.Após obter o
doutorado e a habilitação(qualificação para lecionar em nível universitário),
Dilthey lecionou brevemente como Privatdozent na Universidade de Berlim. Em
seguida foi nomeado para uma cátedra na Universidade de Basileia em 1866,
posteriormente em Kiel, 1868 e Breslau, 1871. Vindo, finalmente, a suceder R.
H. Lotze na Universidade de Berlim em 1882, ocupando a cadeira de Hegel, lugar
no qual ficou até o final de sua vida. Atuou, portanto, como professor em
Basileia, Kiel, Breslau e Berlim, esta última a partir de 1882, ocupando a
cátedra de filosofia. Sua área de interesse e estudo se encontra junto a
história, filosofia, psicologia e pedagogia. Sua obra busca o entendimento da
experiência e da mente humana. Seus trabalhos influenciaram a filosofia da
mente e a hermenêutica.
Em 1874, ele se
casou com Katherine Püttmann, tendo três filhos do relacionamento (um menino e
duas meninas). Ao longo de sua carreira, Dilthey enfrentou desafios pessoais,
incluindo problemas de saúde que o obrigaram a se afastar temporariamente do
ensino. Ele era um erudito prolífico, produzindo obras que mesclavam biografia,
psicologia e hermenêutica. Em seus últimos anos, ele se retirou para o Tirol do
Sul, na Itália, onde continuou a trabalhar em projetos inacabados. Dilthey
faleceu em 1 de outubro de 1911, em Seis am Schlern, deixando um legado que
moldou o campo das humanidades. Sua vida reflete uma busca incessante por
compreender o ser humano em seu contexto histórico e cultural, sem reduzi-lo a
leis universais rígidas.
Dilthey
desenvolveu uma filosofia que buscava compreender a experiência humana em seu
contexto histórico e cultural, destacando-se por sua distinção entre as
ciências da natureza e as ciências do espírito, além de conceitos centrais como
“Erlebnis” (experiência vivida), “Verstehen” (compreensão) e a crítica da razão
histórica.
O conceito de
“Erlebnis” é central na filosofia de Dilthey. Ele se refere à experiência
vivida, um momento pleno de significado que integra pensamento, sentimento e
vontade na consciência individual. Diferentemente de uma experiência meramente
sensorial ou fragmentada, o “Erlebnis” é uma unidade significativa que reflete
a totalidade da vida psíquica. Por exemplo, ler um poema ou vivenciar um evento
histórico marcante não é apenas um ato isolado, mas uma experiência que conecta
o indivíduo ao seu contexto cultural e histórico. Dilthey via o “Erlebnis” como
a base para compreender a vida humana. Ele pensava que as ciências do espírito
deveriam partir dessas experiências vividas para interpretar textos, eventos
históricos ou obras artísticas, captando sua riqueza e profundidade.
A “Verstehen” é
o método fundamental das ciências do espírito, segundo Dilthey. Trata-se de um
processo interpretativo que busca entender as intenções, motivações e
significados por trás das ações humanas. Diferentemente da explicação causal,
que procura causas externas, a compreensão mergulha na interioridade do
sujeito, considerando o contexto histórico e cultural. Por exemplo, ao estudar
uma carta de Goethe, o historiador não apenas analisa o texto, mas tenta
compreender os sentimentos, intenções e o mundo cultural do autor. Dilthey
enfatizou que a “Verstehen” exige empatia e uma conexão com a experiência
vivida do outro, muitas vezes mediada pela hermenêutica, que ele desenvolveu a
partir das ideias de Schleiermacher.
No primeiro volume
de “Introdução ao Estudo das Ciências Humanas”, 1883, faz a distinção entre
ciências do espírito (humanas) e da natureza. As Ciências da Natureza
(Naturwissenschaften) buscam explicar (erklären) os fenômenos por meio de leis
causais e generalizações objetivas. Já as Ciências do Espírito
(Geisteswissenschaften) buscam compreender (verstehen) as manifestações da vida
humana, como a história, a cultura, a arte, a religião, a literatura, etc. O
importante aqui nesta distinção é que a mesma não depende do objeto em estudo e
sim do método, já que um mesmo fenômeno pode ser abordado de ambas
perspectivas. Portanto, Dilthey separa as ciências da natureza das do espírito,
não pelo objeto estudado, que pode ser o mesmo, mas sim pelo método empregado.Essa
abordagem metodológica foi revolucionária, pois legitimou as humanidades como
um campo científico autônomo, com uma lógica própria distinta das ciências
naturais.
As ciências do
espírito têm como objeto a realidade histórico-social, como tal é o caso da
história, economia, ciência do direito, ciência da religião, literatura, música
e psicologia. Para estudarmos as ciências do espírito precisamos empregar um
método diferente do usado pelas ciências da natureza. Nas ciências do espirito
devemos fazer uso da hermenêutica. Quando o pesquisador adota em sua abordagem
de estudo um método causal-explicativo, este se encontra no campo pertencente às
ciências naturais, já quando adota um método compreensivo-interpretativo, passa
a atuar junto as ciências do espírito. Os três momentos do conhecer em que se
fundam as ciências do espírito são: 1- a vivência, 2- a expressão, 3- a
compreensão.
A distinção
entre por um lado ciências naturais e por outro ciências do espírito ou
humanas, se funda sobre o que é natural ou explicável e aquilo que é humano ou
compreensível. Quando pensamos em algo que seja explicável, pensamos em algo
que é obtido por meio de inferências, algo que é passível de ser generalizável,
algo que é racional e apresenta regularidade. Já quando pensamos em algo que
seja compreensível, entendemos que possua um significado e que este significado
só possa se apreendido por meio de um dado contexto histórico social.
Por meio da
história as culturas desenvolvidas e os indivíduos nelas presentes podem se
expressar e se transformar. Cabe às ciências do espírito se dedicarem ao estudo
da singularidade dos eventos históricos e não na busca por leis gerais.
O método
proposto por Dilthey para o estudo das ciências do espírito é o da hermenêutica.
Esta expressão provém do grego, e pode ser entendida como “traduzir” ou
“interpretar”. Trata-se, portanto, de uma abordagem que se propõe a interpretar
ou compreender seu objeto de estudo. Esta proposta atua como se fosse um
círculo, já que o todo só pode ser compreendido por meio do estudo das partes e
estas só podem ser compreendidas por meio do todo. Para entendermos as
expressões humanas, estas devem ser estudadas dentro de seu contexto histórico
(individual e social). Nossa vida está vinculada a significados e estes obtêm
sua coerência por meio de uma interpretação dentro de determinado contexto.
Ao destacar a
importância da compreensão (Verstehen) em oposição à explicação (Erklären) das
ciências naturais, entende Dilthey que a hermenêutica é a metodologia mais
adequada para ser adotada nas ciências do espírito. Dilthey entende que a
compreensão se faz presente pela reconstrução do significado e do contexto
histórico de expressões presentes na vida humana, sejam estas produções
literárias ou organizacionais. A base da compreensão se dá por meio da
experiência vivida (Erlebnis).
Em sua filosofia
da vida (Lebensphilosophie) entendia que a vida se apresenta como um fluxo
contínuo de experiências não passível de redução a conceitos fixos. Para
entendermos corretamente a vida precisamos estuda-la dentro de modo contextual
e interpretativo, já que esta mostra-se presa a sua história e cultura.
Nos últimos anos
de sua vida (1911), Dilthey desenvolve uma tipologia baseada em três visões de
mundo (Weltanschauungen): Naturalismo, idealismo subjetivo e idealismo
objetivo. Entende o naturalismo como uma visão de mundo na qual tudo é
determinado pela natureza e nela inclui os epicuristas. Já por idealismo
subjetivo ou da liberdade, entende uma visão de mundo na qual os humanos são
tidos como sendo conscientes de sua separação da natureza por meio do
livre-arbítrio. Aqui teríamos as filosofias de Friedrich Schiller e Immanuel
Kant. No idealismo objetivo os humanos são conscientes de sua harmonia com a natureza
e aqui se encaixam as filosofias de Hegel, Spinoza e Giordano Bruno.
Dilthey chamou o
seu projeto, de fundamentar filosoficamente as ciências do espírito (humanas)
de “Crítica da razão histórica”. Dilthey aspirava criar uma “crítica da razão
histórica”, inspirada pela “Crítica da Razão Pura” de Kant, mas voltada para o
domínio histórico e humano. Ele buscava estabelecer os fundamentos
epistemológicos das ciências do espírito, investigando como o conhecimento
histórico é possível. Para Dilthey, a história não é apenas uma sequência de
eventos, mas um processo vivo de significados criado pelos seres humanos. Sua
crítica explorava como as experiências individuais e coletivas se entrelaçam na
construção do mundo histórico, rejeitando visões positivistas que reduziam a
história a leis universais.
Dilthey é
considerado um dos precursores da filosofia da vida, que enfatiza a vida como
um processo dinâmico, criativo e historicamente situado. Ele via a vida humana
como o ponto de partida para a filosofia, argumentando que o conhecimento deve
ser ancorado na experiência concreta do viver. A vida, para Dilthey, é sempre
histórica, moldada por contextos culturais, sociais e temporais. Essa
perspectiva influenciou sua análise de como indivíduos e sociedades expressam
suas experiências por meio de arte, religião e instituições.
Dilthey ampliou
a hermenêutica, originalmente desenvolvida por Schleiermacher para a
interpretação de textos bíblicos, transformando-a em um método geral para as
ciências do espírito. Ele via a hermenêutica como uma ferramenta para
compreender as expressões da vida humana (como textos, obras de arte ou ações
históricas) ao relacioná-las ao contexto do autor e ao momento histórico. A
hermenêutica de Dilthey enfatiza o “círculo hermenêutico”, no qual a
compreensão de uma parte (como uma frase) depende do entendimento do todo (o
texto ou a cultura) e vice-versa.
Nos últimos anos
de sua vida, Dilthey desenvolveu a ideia de “Weltanschauungen” (visões de
mundo), que são maneiras pelas quais indivíduos e culturas organizam suas
experiências e valores. Ele identificou três tipos principais: naturalismo;
idealismo objetivo; e idealismo subjetivo.
Naturalismo:
Prioriza a realidade material e as leis naturais.
Idealismo
objetivo: Enfatiza a harmonia entre o indivíduo e o universo, como no
pensamento de Hegel.
Idealismo
subjetivo: Centra-se na liberdade e na experiência interior, como em Kant ou
Schopenhauer.
Essas visões de
mundo não são excludentes, mas representam diferentes formas de interpretar a
vida, influenciando sistemas filosóficos, religiosos e artísticos.
Dilthey propôs
uma psicologia descritiva e analítica, distinta da psicologia experimental de
sua época. Em vez de buscar leis gerais do comportamento, ele focava na
descrição das estruturas da consciência e da experiência vivida, analisando
como os processos de pensar, sentir e querer se interligam. Essa abordagem
servia como base para compreender as ações humanas nas ciências do espírito, em
vez de reduzi-las a modelos causais.
As ideias de
Dilthey foram fundamentais para legitimar as ciências humanas como um campo
autônomo, com métodos próprios. Sua ênfase na compreensão e na historicidade
influenciou filósofos como Martin Heidegger, Hans-Georg Gadamer e Jürgen
Habermas, além de disciplinas como a sociologia e a história cultural. Ele
ofereceu uma alternativa ao Positivismo, destacando a riqueza da experiência
humana e a necessidade de interpretá-la em seu contexto.
ALGUMAS DE SUAS
PRINCIPAIS OBRAS
1- Leben
Schleiermachers. Título em português: Vida de
Schleiermacher. Data da primeira publicação: 1870.
Biografia
detalhada em dois volumes de Friedrich Schleiermacher, explorando sua vida,
desenvolvimento intelectual e contribuições para a teologia liberal e a
hermenêutica, servindo como base para os interesses iniciais de Dilthey em
história intelectual e interpretação.
2- Einleitung in
die Geisteswissenschaften. Título em português: Introdução
às Ciências Humanas. Data da primeira publicação: 1883.
Obra fundamental
que distingue as ciências da natureza das ciências do espírito (humanas),
propondo uma fundamentação metodológica para o estudo da sociedade e da
história por meio da compreensão (Verstehen) em vez da explicação causal,
enfatizando a hermenêutica como método chave.
3- Ideen zu einer beschreibenden und zergliedernden
Psychologie. Título
em português:Ideias para uma
Psicologia Descritiva e Analítica. Data da primeira publicação: 1894.
Propõe uma
psicologia descritiva e analítica que se concentra na estrutura da experiência
vivida (Erlebnis), distinguindo-a da psicologia explicativa naturalista, e
analisa o nexo estrutural da consciência envolvendo representar, sentir e
querer.
4- Beiträge zum
Studium der Individualität. Título em português: Contribuições ao Estudo da
Individualidade. Data da primeira publicação: 1895.
Explora a
individualidade como algo adquirido historicamente, enfatizando a configuração
estrutural de qualidades dominantes e subordinadas, e critica distinções
nomotéticas-idiográficas, destacando a conexão entre o geral e o individual nas
ciências humanas.
5- Das Erlebnis und die Dichtung, Lessing, Goethe,
Novalis, Hölderlin. Título
em português: A Experiência Vivida e a Poesia. Data da primeira publicação:
1905.
Examina a
relação entre a experiência vivida e a criação poética, analisando como a
imaginação literária expressa e transforma a vida interior, com estudos sobre
autores como Goethe e Novalis, enfatizando o papel da arte na compreensão
humana.
Estudo
biográfico e histórico sobre os anos formativos de Georg Wilhelm Friedrich
Hegel, traçando o desenvolvimento de seu pensamento idealista em contexto
cultural e romântico, ilustrando o método de Dilthey de análise holística de
figuras históricas.
7- Der Aufbau der geschichtlichen Welt in den
Geisteswissenschaften. Título em português: A Construção do
Mundo Histórico nas Ciências do Espírito. Data da primeira publicação: 1910.
Investiga como
as ciências do espírito constroem o entendimento do mundo histórico, destacando
a singularidade dos eventos, o papel do contexto e a relatividade das
perspectivas, como parte do projeto maior de crítica da razão histórica.
8- Die Typen der Weltanschauung und ihre Ausbildung in
den metaphysischen Systemen. Título em português: Os Tipos de Visão de Mundo. Data
da primeira publicação: 1911.
Classifica as
visões de mundo em três tipos principais (naturalismo, idealismo objetivo e
idealismo subjetivo) e sua manifestação em sistemas metafísicos, contribuindo
para a filosofia da vida e a análise comparativa de orientações existenciais.